quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Reflexões sobre trote universitário

Sei que faz muito tempo que não posto nada por aqui...
Mas segue um texto que escrevi que ia sair no jornal do DCE-UnB, porém o jornal nunca chegou a sair do computador...



Recepção sem humilhação

Já é prática comum em muitas universidades do Brasil ao longo de cada semestre cada curso dar sua recepção às calouras e aos calouros. Alguns cursos adotam uma semana de atividades; aulas magnas; ações ecológicas. Alguns ainda optam pelo tradicionalismo do Trote sujo e/ou violento.
Veteranas e veteranos usam de argumentação que o trote é o momento de integração; que de fato é. Eu passei a me sentir mais integrado ao curso após passar pelo trote. Porém as pessoas se esquecem de pensar que antes do trote; há uma tensão no ar e um medo acerca do mesmo e das e dos veteranas (os) que só querem sacanear. Por isso, quando acaba o trote, o sentimento de alívio querendo ou não bate; pois agora não há mais aquela tensão do trote. Agora, sim não há barreiras para a interação.
Por isso, o trote representa um momento de coersão, pois quem é nova (o) na Universidade está morrendo de ansiedade de fazer amizades e muitas vezes pode se submeter às mais diversas coisas para conseguir se inserir no espaço. Sem contar que o medo da retaliação de não participar do trote existe e é real. Se o trote é o grande momento integrador do primeiro semestre, qual é a lógica simples?
Hoje, eu me pergunto: Qual é a graça de sujar uma pessoa que você mal conhece? Mostrar para a comunidade que ele é um ser diferente, mas que ainda não é um dos nossos de fato? Qual é a graça de submeter outra pessoa a poses degradantes e de mau gosto? Só por que você já passou por isso uma vez; não precisa mais passar? O trote não é um momento de integração. Por que todo mundo não se pinta? Será que não existe uma colocação hierárquica desnecessária? O veterano ou a veterana são melhores do que todo mundo? Trote é realmente uma brincadeira?
Existem outros métodos de recepção que realmente acolhem e estimulam a amizade. O trote solidário, organizado pelo Diretório Central de Estudantes em conjunto com muitos Centros Acadêmicos, é uma delas. Mas cada curso; centro acadêmico tem a sua própria autonomia para fazer a sua recepção voltada inclusive para o próprio curso. Palestras, gincanas, visitas a lugares relacionados ao curso, doação de sangue. Muitos são os caminhos para receber as pessoas sem precisar humilhá-las e sei que do mesmo jeito que se utiliza a critividade para bolar trotes mais engenhosos; pode-se utilizar de uma maneira muito mais eficaz e produtiva.